Se você trabalha com marketing digital, provavelmente sentiu a agitação sobre o fim do SEO. Com a chegada das IAs Generativas e as novas experiências de busca do Google, parece que a cada semana surge um novo guru declarando que o SEO morreu.
Muito desse barulho serve a um propósito comercial. Agências criam um senso de urgência para vender novos serviços. Assim, a “otimização para IA” é vendida como a salvação do tráfego orgânico de qualquer negócio.
A verdade, no entanto, é bem mais simples. E muito mais animadora para quem faz um bom trabalho. O que estamos vivendo não é o fim do SEO, mas sim sua mais nova evolução.
Por isso, é hora de respirar fundo, ignorar o alarmismo e entender que o bom e velho SEO, quando bem-feito, é exatamente o que nos preparará para o futuro. Acompanhe!
Desmistificando o fim do SEO
A verdade é que a conversa sobre o fim do SEO é quase tão antiga quanto sua própria existência. A cada grande atualização do Google, a mesma narrativa ressurge.
Esse discurso ignora toda a evolução do SEO nos últimos anos para amarrar a ideia de que o se faz é ultrapassado. É uma tática eficaz para vender novos serviços: apresentar um quadro de práticas antigas e obsoletas para, em seguida, apresentar uma solução “revolucionária”.
Assim, essa visão não considera um ponto muito importante: o Google não é o mesmo há muito tempo. A mudança para além da clássica página de dez links azuis tem sido um processo gradual e muito intencional.
Para refrescar um pouco a nossa memória, veja algumas das principais mudanças do Google dos últimos 15 anos:
- 2009: os Rich Snippets passam a exibir recursos e informações extras nos resultados;
- 2011: a base de dados do Google passa passa a contar com o Knowledge Graph, que organiza as informações por entidades (pessoas, lugares, coisas etc.) que se relacionam;
- 2013: o novo algoritmo do Google, o Hummingbird, deixou de apresentar resultados de busca apenas por palavras-chave, gerando uma compreensão semântica de consultas conversacionais;
- 2014: os Featured Snippets surgem com respostas diretas à busca no topo da SERP, conhecido como posição “zero”;
- 2015: os boxes “As pessoas também perguntam” aparecem com perguntas e respostas relacionadas à busca diretamente na SERP;
- 2015: o RankBrain é introduzido ao algoritmo do Google, utilizando aprendizado de máquina para interpretar a intenção de busca;
- 2019: o BERT aprofunda a compreensão da intenção de busca com processamento de linguagem natural;
- 2021: a evolução do BERT, o MUM, chega como IA 1.000 vezes mais poderosa, com capacidade de interpretar dados multimodais;
- 2023: o Google inicia os experimentos com respostas de IA generativa com o SGE, dando o nascimento do AI Overviews.
Cada uma dessas etapas foi um passo em direção a fornecer respostas mais diretas e contextuais, diminuindo a dependência do clique. O que vemos hoje com as AI Overviews e o AI Mode é a maturação dessa jornada.
Por isso, o discurso sobre o fim do SEO é muito mais barulho para as agências e os gurus venderem serviços do que uma análise real da situação.
GEO, LLMO, AIO: novas siglas, mesmos princípios
Desde a popularização do ChatGPT e do Gemini, mas, principalmente, após o SGE do Google, que deu origem ao AI Overviews, a narrativa sobre a necessidade de uma nova disciplina se tornou comum.
A proliferação de novas siglas como AIO (AI Optimization), LLMO (Large Language Model Optimization) ou GEO (Generative Engine Optimization) pode criar a ilusão de que precisamos abandonar tudo o que sabemos.
Contudo, isso é um equívoco. Essas novas nomenclaturas são, em essência, rótulos para um SEO de alta qualidade executado no contexto tecnológico atual. A solução não está em uma disciplina radicalmente nova, mas em dobrar a aposta nos fundamentos e se adaptar ao que é novo.
O coração do SEO permanece o mesmo:
- Excelência técnica: seu site precisa ser impecável, rápido, seguro e fácil de ser rastreado por qualquer tipo de robô, seja o Googlebot clássico ou um novo crawler de IA;
- Intenção do usuário: a obsessão em entender o que o usuário realmente quer, qual problema ele precisa resolver, é o ponto de partida de qualquer estratégia de sucesso;
- Conteúdo único e valioso: como a IA pode agregar e resumir todas as informações, a sua perspectiva individual é o seu ativo mais valioso. A informação pode ser comoditizada, mas a personalidade, a experiência genuína e a voz da sua marca não podem. É o famoso E-E-A-T (Experiência, Expertise, Autoridade e Confiança) elevado à máxima potência.
Assim, sua marca precisa de um site com uma excelente experiência do usuário, demonstrar que sabe do que fala, que tem experiência prática no assunto e que é uma fonte confiável.
O trabalho do SEO, então, é ajudar o assistente de IA, fornecendo a ele o material mais claro, confiável e bem estruturado possível para que ele, por sua vez, possa ajudar o usuário final.
O comportamento do usuário mudou em relação às buscas
Se não é o fim do SEO, o que está mudando então? A mudança é de mentalidade. A busca não acontece mais apenas na caixa de pesquisa do Google há bastante tempo. As pessoas descobrem marcas, produtos e soluções em muitos outros lugares.
Dessa maneira, o clique tradicional perde protagonismo e a descoberta passa a ocorrer onde e como o usuário estiver. Nesse sentido, há dois fenômenos muito relevantes para o comportamento do usuário em relação às buscas:
- as ferramentas de IA generativa proporcionam uma experiência conversacional, na qual o usuário tem respostas de diversas fontes dentro de uma única interface;
- redes sociais, fóruns e outras plataformas estão mais presentes na vida dos usuários e entregam experiências ricas de descoberta.
O comportamento do usuário na era das buscas por IA
Estamos saindo de um mundo onde usávamos um motor de busca para encontrar informações e entrando em uma era onde contamos com um assistente inteligente para nos guiar.
As IAs e os modelos de linguagem grande (LLMs) são como assistentes pessoais de pesquisa. Eles consomem uma vasta quantidade de conteúdo da web, o sintetizam e nos entregam uma resposta pronta, transformando uma longa jornada de cliques em uma conversa fluida.
As plataformas querem manter os usuários dentro de seu ecossistema, por isso criam diferentes recursos para aperfeiçoar a sua experiência. Isso significa que a busca de zero cliques já está em crescimento e tende a se tornar o principal padrão.
Assim, isso torna métricas tradicionais, como a taxa de cliques (CTR) e as sessões orgânicas, cada vez menos centrais para a avaliação de sucesso.
Para nós, profissionais de marketing, isso exige uma adaptação estratégica. O objetivo não é mais apenas levar o usuário para o nosso site, mas garantir que nossa marca e nossa mensagem sejam descobertas por esses novos assistentes.
No entanto, o comportamento do usuário na descoberta não se basta em IAs generativas. Embora essas ferramentas estejam cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, elas não tendem a ser a única forma de realizar buscas e consumir informação.
Além da IA, a nova jornada de descoberta é multicanal
Com redes sociais, fóruns e outras plataformas estando mais presentes na vida das pessoas, é natural que a busca e a descoberta façam parte desses locais. Afinal, o consumidor de hoje deseja conexão e identificação com o conteúdo.
Assim, uma busca pode iniciar no TikTok, observando um vídeo curto e explicativo. Pode seguir para o YouTube, acompanhando um tutorial detalhado. Ou talvez em um fórum no Reddit, lendo opiniões de pessoas reais.
Assim, a jornada do consumidor não é mais uma linha reta. É uma teia complexa de pontos de contato e é a esse contexto que o SEO atual deve prestar atenção.
Isso nos leva a uma reflexão importante: sua estratégia de SEO não pode viver isolada. Ela deve fazer parte de um ecossistema de marca muito maior. Estar presente onde o seu público está é fundamental. Otimizar seu conteúdo para diferentes plataformas é a nova fronteira.
Desse modo, seu vídeo no YouTube é uma peça de SEO. Seu post explicativo no Instagram é uma peça de SEO. Sua resposta detalhada em uma comunidade online é uma peça de SEO.
Isso porque SEO, em sua forma mais pura, é sobre ser encontrado. É sobre conectar uma necessidade a uma solução. Onde quer que essa conexão aconteça.
Otimização de SEO para IA e multicanal
Agora que já entendemos a mudança no comportamento do usuário, é necessário aperfeiçoar nossa técnica. Assim nossas estratégias de SEO continuam a fazer sentido no cenário de descobertas atual.
Mas como isso se traduz no dia a dia? Na prática, a otimização para motores de busca generativos, como discutido anteriormente, precisa aprofundar a relevância da marca, com forte presença digital em diversos canais, e sua autoridade nos tópicos com os quais se relaciona.
Alguns pontos de reflexão de como fazer otimização para IA são:
1. Aprofundar o conteúdo
Deixe de lado os textos superficiais criados apenas para ranquear. Crie materiais completos, guias definitivos, conteúdos multimídia, análises que ninguém mais fez. Torne-se a fonte que você mesmo gostaria de encontrar.
2. Construir uma marca forte
Uma marca com identidade e voz se destaca e gera confiança. A confiança é um dos pilares para ser escolhido pela IA e, principalmente, pelas pessoas. Invista em branding, em propósito e em uma comunicação consistente.
3. Pensar de forma integrada
Seu time de SEO precisa conversar com o de conteúdo. O de conteúdo com o de social media. O de social media com o de relações públicas e assim por diante. A força da sua presença digital vem da soma de todas essas partes.
4. Focar nos fundamentos
A base técnica do SEO continua relevante. Um site rápido, seguro e bem estruturado é o alicerce. Mas ele é apenas isso: o alicerce. A construção que vem por cima é o que fará toda a diferença.
Como avaliar resultados de SEO na era do clique zero
Se os cliques e o tráfego orgânico direto podem diminuir, como provamos o valor do nosso trabalho? Precisamos expandir nosso olhar e educar nossos clientes e gestores sobre novas métricas de sucesso. A conversa precisa mudar.
O foco sai do ranking e vai para a visibilidade. Não se trata mais de ser o número um para uma palavra-chave, mas de ser a resposta em todos os lugares.
Pense nesta transição:
- De rankings para menções: ser citado pela IA ou em outras plataformas torna-se um indicador de autoridade;
- De links para citações: a presença da marca em diversos canais, mesmo sem link, constrói relevância;
- De monopólio da SERP para Share of Voice: qual a sua participação na conversa geral sobre seu nicho?;
- De palavras-chave para intenção: o foco maior está em responder às necessidades implícitas do usuário;
- De conteúdo para contexto e sentimento: como seu conteúdo é percebido e qual a emoção que ele gera tornaram-se ainda mais relevantes.
Adotar essa visão mais ampla nos permite demonstrar um valor muito mais estratégico e alinhado aos objetivos de negócio de longo prazo, como o fortalecimento da marca e a consolidação da autoridade no setor.
Adapte-se com inteligência, não com medo
A era da IA não é uma sentença de morte para o SEO; é sua promoção. A disciplina está finalmente rompendo as barreiras da página de resultados para se tornar uma peça ainda mais central e estratégica no quebra-cabeça do marketing.
A mudança é real, mas o caminho a seguir não é o do pânico. É o da inteligência estratégica. O desafio é ampliar nosso campo de visão, focar na qualidade absoluta e dominar a arte de ser descoberto em um ecossistema digital em constante expansão.
As ferramentas mudam. Os algoritmos evoluem. Mas a necessidade humana por respostas claras, confiáveis e úteis permanece. E quem focar em atender a essa necessidade, com qualidade e autenticidade, não apenas sobreviverá. Irá prosperar.
A conversa, afinal, nunca foi sobre robôs. Sempre foi sobre pessoas. E agora, mais do que nunca, isso está evidente.
Se precisar de ajuda, entre em contato para repensar a sua estratégia de SEO. Juntos, podemos entender os caminhos que melhor se alinham aos objetivos do seu negócio.